quarta-feira, 16 de julho de 2014

ESTADO DA HELICICULTURA EM PORTUGAL....

Ultimamente muito se tem falado da criação de caracóis em Portugal e sempre que se pesquisa na Internet sobre este assunto, apenas surgem sites com artigos que descrevem este negócio como a "Galinha do Ovos D'Ouro", pois bem.... é mentira.

Como sou helicicultor à 7 anos, pretendo neste artigo falar de alguns factores que têm feito com que este negócio seja cada vez menos sustentável, e assim alertar aqueles que ainda estão na fase de pensar em entrar no mundo da Helicicultura, ou seja, a criação de caracóis.

1º - PROJECTOS FINANCIADOS PELO PRODER

Linha de apoio"PRODER" - Incentivo a jovens a investir na Agricultura financiando 60% dos projectos. Até aqui tudo bem, mas é aqui que surge o primeiro grande problema, ou seja, antes destes projectos serem aprovados, as entidades reguladoras do PRODER responsáveis pelas validações dos  projectos, deviam analisar o mercado daqueles que já têm actividades abertas, de forma a recolher dados suficientes para que possam validar ou rejeitar um projecto com maiores certezas.

A Helicicultura está referenciada como uma das culturas agrícolas de menor investimento e por isso, a falta de emprego aliado aos incentivos do PRODER faz com que centenas de Jovens decidam enveredar por uma carreira profissional na Helicicultura, porque ouviram dizer que é um investimento barato, que dá muito dinheiro e que o estado financia praticamente tudo através das linhas de apoio do PRODER. Tudo muito bonito só que, o investimento para uma exploração de helicicultura em área coberta (estufas) nunca fica em menos 100.000€, no melhor dos cenários o Jovem Agricultor tem de ter 40.000€ para investir mais o dinheiro para a compra do Alevins (carcol bebe) que o PRODER  não comparticipa.

RESUMINDO: Graças à falta de controlo por parte do PRODER aceitando projectos que à partida não vão dar nem para os gastos, à medida que os anos forem passando, centenas de jovens ficarão novamente sem emprego, com dividas a Bancos, e dividas ao PRODER, sim porque o PRODER apenas quer que a actividade decorra durante 5 anos, o que faz com que muitos helicicultores nem um ano consigam sustentar a actividade devido aos enormes prejuízos, e como não sobreviveram os 5 anos, o PRODER pede o dinheiro de volta.

2º - MERCADO PORTUGUÊS

Quando se fala na criação de caracol em Portugal não nos estamos a referir ao caracol pequenino mas sim à Caracoleta que normalmente se consome assada ou recheada (famoso Escargot Francês), o que também neste ponto algumas pessoas são induzidas em erro, pois em Portugal consome-se muito caracol mas é do pequeno. A caracoleta também já vai tendo um consumo bastante significativo mas o valor da caracoleta marroquina, apesar de péssima, faz com que a caracoleta produzida pelos viveiros nacionais não tenha muita procura pelos intermediários.


3º - INTERMEDIÁRIOS PORTUGUESES

O escoamento deste produto depende essencialmente dos intermediários, distribuidores e retalhistas Portugueses, o que neste ramo é um mercado muito pequeno.
Neste ponto é caso para dizer infelizmente estamos em Portugal e somos obrigados a negociar com os negociantes Portugueses.
De forma a proteger o produtor, nesta actividade não há qualquer protecção na lei nem qualquer controlo por parte do ministério da agricultura ou outras entidades competentes que equilibrem o preços.
Em Portugal existem cerca de 10 intermediários média/grande dimensão, e apesar de cada um dizer mal do outro, fazem combinações de valores a oferecer aos produtores, fazendo com que o preço de venda fique cada vez mais baixo e praticamente fique igual ao custo de produção. Por exemplo, numa produção de 2500 M2 o custo de produção chega a atingir os 2.20€/Kg e os Intermediários oferecem 2.00€ / 2.50€/Kg, ou seja, se houver uma mortalidade acima dos 30% os produtores não conseguem pagar os custos de produção. Depois ainda há os intermediários que se aproveitam da situação de alguns produtores e oferecem valores que nem o custo de produção paga.

4º - A ILUSÃO DO MERCADO INTERNACIONAL

Como é moda no nosso País a palavra de ordem agora é EXPORTAÇÃO, pois bem, na Helicicultura conseguir exportar para FRANÇA como todos ambicionam é uma missão quase impossível. Mercado existe, o problema é que em França também existe centenas de produtores e os transportes do nosso País para França não são os melhores. Para além do preço  exorbitante, normalmente as transportadores só aceitam transportar cargas completas, ou seja, 20 toneladas de cada vez. 


5º - HELIXCOOP - A COOPERATIVA QUE PROMETE AJUDAR


Como muitas cooperativas em Portugal, esta é mais uma que promete mundos e fundos aos helicicultores mas no fim, é mais uma cooperativa que apenas serve para fazer algumas pessoas ganharem dinheiro. Pessoas essas que fazem parte da cooperativa. Um produtor que queira aderir à cooperativa, tem como principais obrigações: - pagar uma jóia, comprar os alevins à cooperativa e apenas vender os caracóis através da cooperativa. Isto até podia funcionar se, a cooperativa garantisse o escoamento do produto, o que não acontece. Sendo assim, o produtor entrega as caracoletas na cooperativa na esperança de esta vender toda a sua produção mas, se a cooperativa não conseguir vender o produto, o produtor é contactado para ir levantar as caracoletas porque a cooperativa não as conseguiu vender. Posto isto, o produtor entregou a sua produção a uma entidade que não lhe pagou logo e não sabe se vai pagar, e sujeitou-se a perder negócio na venda a intermediários ou cliente final porque é sócio de uma cooperativa que lhe retém a produção sem qualquer garantia de escoamento. 
Quem ganha com isto? Todas as pessoas que administram a cooperativa, pois são elas que, produzem e vendem alevins, vendem formações, e tem as próprias produções.


6º - CONCORRÊNCIA MARROQUINA


Aqui vou ser muito resumido, ou seja, em portugal a caracoleta tem de ser vendida no minimo a 2.5€ + IVA para ser rentável, e a caracoleta Marroquina entra em Portugal a 1.50€ / 1.80€. Com a situação actual do País se fossem intermediários qual comprariam? A mais barata claro.

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Pois bem, estes são alguns dos factores que identifico como sendo dos principais a tornarem esta actividade insustentável. Existem outros mais, como por exemplo, os Jovens que querem ser Agricultores mas não querem sujar as mãos, pessoas que se colocam nesta actividade sem qualquer conhecimento da mesma, etc.....

Enfim, um conselho que dou a todos vós que estejam a pensar em se iniciar nesta actividade ou até noutra na agricultura, é que analisem bem o mercado, avaliem os custos de produção e os valores de venda e as condições que têm para se iniciarem uma actividade agrícola.

Para finalizar, e respondendo à pergunta que muitos devem estar a fazer, "Se é mau porque é que ainda está nesse negócio?" - Este negócio para mim vai sendo sustentável, pois ainda sou do tempo em que conseguia vender 1 KG de caracoleta a 4.50€ e no mínimo a 3.00€ por isso ainda fiz algum capital e tenho tudo pago, o que, faz com que tenha um custo de produção bastante inferior ao normal. Mas neste momento só dá mesmo para pagar custos e retirar um razoável ordenado para mim.


Estarei disponível para qualquer questão relacionada com este artigo, através deste BLOG,

Obrigado, boa sorte e bons negócios......